sábado, 31 de janeiro de 2009

O RISO DOS HOTXUÁS - Sacerdotes do Riso

Olá Turminha do Riso, hoje trago para vocês um artigo sobre o documentário longa-metragem "O Riso Hotxuá – Palhaços Sagrados", dirigido pela atriz Letícia Sabatella e pelo designer Gringo Cárdia, com a participação de Ricardo Puccetti na figura do palhaço ocidental, que foi exibido nos festivais de Toulouse, Cine Verité e Freiburg e teve sua primeira sessão no Brasil às 21hs da 4ª feira passada (28/jan/09) na 12ª Mostra de Cinema de Tiradentes, no Largo das Forras.

O filme, com 70 minutos de duração, surgiu quando Letícia foi procurada por um dos líderes indígenas dos Krahôs (tribo que usa como armas a força do sorriso e da doçura) pedindo ajuda para o resgate das tradições de seu povo que habita o nordeste do estado do Tocantins, entre os municípios de Itacajá e Goiantins, maior área de cerrado preservado do Brasil.

A solução apareceu quando Letícia percebeu a importância do riso para a manutenção da ordem e do equilíbrio entre os krahôs, que consideram a alegria um elemento básico da sua sociedade e designa entre os líderes um “sacerdote do riso”: o Hotxuá - espécie de índio palhaço, sua função é brincar e animar o espírito da aldeia, dissipar disputas, atritos, ensinar o certo ao agir de modo errado e, com isso, desmistificar o erro.

(imagem extraída do site www.new.divirta-se.uai.com.br)
A atriz e diretora com os krahôs durante a produção do seu filme

O filme busca o lado positivo da vida da tribo Krahô, destacando a existência dos Hotxuás, que têm a função social de entreter a tribo, mantendo a sua auto-estima e integridade, fazendo-a superar as dificuldades através do humor. "Ele é um líder estimulante dentro da aldeia, responsável pela harmonia e alegria dos outros membros, e quem busca a saída para fracassos e dificuldades que se abatem sobre a tribo. O que é curioso é que eles passaram por muitas dificuldades históricas, como massacres por parte dos latifundiários, mas sempre se superaram, com a ajuda do Hotxuá”, diz a atriz.

Sérgio Rodrigo Reis (EM Cultura) informa que o registro poético do cotidiano dos krahôs feito pelo documentário tem origem nos rituais. São três as crenças mais importantes: a harmonia da natureza, a força das plantas e a celebração da vida. Para eles, a natureza é dividida entre os partidários do Sol (wakmiyé) e os do clima úmido (katamiyé). Cada segmento possui um cacique, que rege a tribo de acordo com a situação climática. As duas forças são complementares e nenhuma pode superar a outra sob pretexto de atrapalhar o equilíbrio do universo.

Os krahôs acreditam ainda que as plantas foram presentes de Caxekwyj, uma estrela que veio do céu trazendo as sementes. Quando a estrela se transformou em moça, ensinou o povo a plantar e comer os frutos da terra. A cada planta associaram uma qualidade especial. À batata atribuíram a fertilidade e a mudança das estações; e às flores das abóboras, a origem do hotxuá. O filme entra no universo da tribo a partir da festa da batata.
(imagem extraída do site: www.new.divirta-se.uai.com.br)
O humor é um elemento de equilíbrio para os índios krahôs

Segundo Ricardo Puccetti (LUME), Hotxuá não é um personagem, mas uma função social que alguns escolhidos têm o privilégio de possuir. Esta função é passada pelo nome (que é o maior bem que um Kraó pode possuir), ou seja, quando um recém nascido recebe o nome, se este nome é dado por um hotxuá (o pai, um tio ou um amigo da família), a criança será hotxuá, podendo na adolescência optar definitivamente se vai querer ou não seguir neste papel. Também é possível alguém escolher ser hotxuá, desde que seja nomeado para que possa atuar com tal.

Os hotxuás têm importante participação no cotidiano da comunidade, sempre com o viés da comicidade, arrancando o riso das situações do dia a dia e brincando com as possibilidades de ver a vida sob outros ângulos, tendo permissão para fazer o que quiser e todos têm por ele um grande respeito e afeto.

Eles podem interferir nos afazeres das outras pessoas, podem provocar ou fazer as coisas "ao contrário", com um prazer infantil e um olhar inteligente que consegue perceber toda e qualquer oportunidade para fazer as pessoas rirem. O hotxuá pode começar a andar como um animal, cheio de contorções e caretas, no meio de um grupo de mulheres que cozinha e, de repente, pegar um bocado de comida de dentro da panela e começar a comer. Não pela boca, mas pelas orelhas, olhos e nariz. Todos caem na gargalhada e ninguém se aborrece porque ele pegou a comida.
(imagem extraída do site: www.revistamoviola.com)
A maquiagem, sempre muito pessoal, é feita com tinturas extraídas do urucum (vermelho), jenipapo (preto) e de pó de giz (branco). O curioso é que o vermelho, branco e preto também são as cores básicas das maquiagens do palhaço ocidental. Hotxuá é o palhaço em essência: com sua disponibilidade para o jogo e para o outro, seu prazer e capacidade de brincar com e para as pessoas.

Muito legal não é, Turminha do Riso ??? Então, por fim juntem-se a mim para darmos uma salva de palmas para a atriz e agora diretora Letícia Sabatella, pela iniciativa, coragem e sensibilidade de tornar a tradição dos Kraós e em especial do palhaço sagrado Hotxuá, imortal e conhecida de todos nós, destacando a importância do Riso em comunidade.

Envie seu comentário sobre este povo maravilhoso, que conforme disse Puccetti, “mantém sua capacidade de rir e seu prazer de brincar, mesmo entre os adultos, tão diferente do que vemos em nossa sociedade e cultura, estimulando e mantendo vivo este espírito do rir e brincar, não importando a hora ou o lugar”. De fato temos ainda muito que aprender com os indígenas e a simplicidade e ingenuidade de suas tradições. Por isso, os Kraós são conhecidos como uma TRIBO QUE RI.

Abraços, SORRIA E TENHA UM BOM DIA

2 comentários:

  1. Dr. Marcelo Pinto,

    Aqui quem fala é quem foi seu companheiro de viagem (vizinho da poltrona) com destino ao Canadá. Apesar do pouco tempo junto, umas 10 horas, é impossível não simpatizar com sua pessoa. Fico feliz pelo sucesso e estou acompanhando sempre o seu Blog e Emails. Não me deixe fora de sua lista de contatos.
    Parabéns!!!
    Um abraço,
    Robertson Nóbrega – Campina Grande – Paraíba – Brasil.

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  2. Tive a oportunidade de travar contacto com esse povo maravilhoso durante o festival multiétnico na Chapada dos Veadeiros em Goiás este ano. Uma experiência muito especial onde pude apreciar as habilidades dos hotxuas, que encantaram os presentes. Passei alguns dias em companhia de alguns kraos, pessoas amáveis que têm muito a nos dizer. Parabenizo o trabalho da atriz Letícia Sabatella e espero poder assistir o filme que realizou.
    Rosa Maria Almeida-Guia de Turismo- Rio de Janeiro

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