quinta-feira, 31 de março de 2011

Doutor Risadinha apresenta O Elixir do Riso


Pessoal do Riso!!! Vejam que artigo completíssimo encontrei, escrito pela Raphaela de Campos Mello, sob o título "O Elixir do Riso", publicado no site http://bonsfluidos.abril.com.br/edicoes/0144/especiais/elixir-riso-direcao-620470.shtml . Aproveitem a leitura, que se apresenta muito gostosa:

Com essa poção você pode se embriagar à vontade. Rir desperta os hormônios do prazer, fortalece o coração e as defesas do organismo, turbina a criatividade e ainda queima calorias. Haja abdômen para praticar a mais prazerosa das ginásticas!

Quando foi a última vez que você soltou uma gargalhada daquelas que fazem torcer o abdômen e produzir baldes de lágrimas? Se um médico lançasse essa pergunta numa consulta de rotina, o paciente certamente colocaria em dúvida a reputação do profissional. Pois saiba que essa inquirição é mais reveladora do que supomos. Quem ri pouco pode estar padecendo dos males provocados por uma doença chamada “déficit de alegria”.

O riso é um “medicamento” 100% orgânico, gratuito e contagiante, idealizado pela fisiologia humana para ser consumido sem moderação. “Ele relaxa o corpo e a mente, fortalece as defesas do organismo, melhora a circulação e a pressão arterial e libera endorfina, hormônio que promove uma sensação de bem-estar geral”, afirma o médico e homeopata Eduardo Lambert, autor de A Terapia do Riso – A Cura pela Alegria (Pensamento).

O êxtase proporcionado por uma bela risada é imediato. Não precisamos de mais nada pelo resto do dia. De toda forma, não custa listar o que a ciência andou descobrindo sobre o assunto. Cardiologistas do Centro Médico de Maryland, Estados Unidos, comprovaram que a serotonina, neurotransmissor relacionado ao bem-estar, liberada pelo riso protege o coração contra infarto, trombose e acidente vascular. Do outro lado do globo, cientistas japoneses ligados à Universidade de Tsukuba verificaram a queda da taxa de glicose em sucessivos grupos de diabéticos convidados a se regozijarem com apresentações teatrais cômicas. O ato de rir ainda se configura como a mais prazerosa das ginásticas. A cada 15 minutos de prática, queimamos 40 calorias, segundo uma pesquisa realizada pela Universidade Vanderbilt , nos Estados Unidos.

Mesmo quando o assunto é sério, como é o caso do adoecer, o riso encontra espaço. Não só pode como deve ser injetado em faces combalidas por enfermidade. Quem ousou detonar essa revolução dentro dos hospitais – a princípio, território da tristeza e da seriedade – foi o médico americano Hunter “Patch” Adams, cuja batalha contra o protocolo hospitalar foi retratada no filme Patch Adams – O Amor É Contagioso (1998).

Imagine quanta audácia não foi necessária para um médico afirmar na década de 1960 que o riso é terapêutico, ou seja, favorece a reabilitação e até a cura dos pacientes. “Uma piada de mau gosto”, Adams ouviu de seus colegas e superiores na época. Com o passar do tempo e o acúmulo de resultados positivos, a técnica de levar o bom humor a quem está sob >> cuidados médicos ganhou o mundo. No Brasil, esse trabalho é desenvolvido pela ONG Doutores da Alegria, para o alento de crianças, pais e profissionais da saúde.

Riso e budismo

Para a química e cientista Conceição Trucom, autora de Mente e Cérebro Poderosos – Um Guia Prático para a sua Saúde Psíquica e Emocional (Cultrix), o ato de rir é um portal para o estado meditativo. “As pernas amolecem, o corpo balança e o pensamento para”, ela afirma. Melhor ainda se o impulso vier de dentro. “O chamado riso búdico começa na alma e depois se manifesta no corpo físico, sobretudo nos olhos, que passam a brilhar. É uma energia de elevada potência que nos acorda, nos torna presentes”, diz a autora.

Aposto que nesse instante sua mente foi invadida pela imagem da estatueta de Buda com a barriga saliente e os dentes à mostra. Sim, essa é a representação mais fiel do tal riso búdico. Só de olhar para o adorno ficamos mais leves. Mas se Buda foi um príncipe de porte físico notável, por que sua estátua ganhou uma pança? O motivo parece óbvio para o guru indiano Osho: “Como você pode dar uma gargalhada com uma barriga pequenininha? Tudo é reprimido na barriga. Assim, quando você ri de verdade, essa região do corpo vibra”, ele afirma no livro Vida, Amor e Riso (Gente).
A representação avantajada de Buda também pode ser interpretada como um exercício de bom humor praticado pelos próprios budistas. Quem diria, os seguidores debochando do mestre supremo. Qual a lógica disso? Não, não se trata de desrespeito religioso. O riso tornou-se a base da tradição zen a partir do dia em que o discípulo Mahakashyap soltou uma sonora gargalhada na presença de Buda. Reza a lenda que o iluminado permaneceu horas em silêncio admirando uma flor enquanto a plateia inquieta ansiava por ouvir seus ensinamentos. Nenhum dos presentes foi capaz de entender a cena, com exceção de Mahakashyap, que a certa altura quebrou o gelo e caiu no riso.

Segundo Osho, o comportamento do discípulo equivale à reação de quem decifra uma charada. No caso, a “piada cósmica”. Explico. A percepção de que movemos mundos e fundos para encontrar o sentido da existência quando a resposta estava o tempo todo dentro de nós. Na nossa divindade. Por isso, para os budistas, somente a quietude interior é capaz de desencadear o verdadeiro riso. “Quando o riso nasce do silêncio não é algo deste mundo; ele é divino”, diz o sábio indiano.

Freio puxado

Entre nós, mortais, tantas vezes subordinados à vontade de agradar ao outro e ainda corresponder às normas de etiqueta, o riso se vê obrigado a passar pelo rolo compressor da contenção e, pior ainda, da dissimulação. Ele também perde boa parte do viço quando é limado pela timidez, o que é compreensível. Quem ri com gosto inevitavelmente se faz notar. E, não raro, acaba sendo confundido com um tipo vulgar. Puro preconceito.

Na maioria dos casos, a trava interna que não nos permite explicitar nosso contentamento é tão antiga quanto o álbum de família, empoeirado, na estante. Na hora em que a alegria quer transbordar, vem a patrulha dos valores cristalizados nos lembrar do que estamos cansadas de ouvir desde a tenra idade: “A vida não é um mar de rosas”, “É sofrendo que se aprende”, “Você parece uma boba, só sabe rir das coisas”. Ninguém, a não ser nós mesmas, pode Especial corpo & mente em sintonia conceder o aval para rirmos sem pudor, com a boca aberta, por que não? “Devemos partir para a reavaliação de nossos valores, visando ao descondicionamento de tantas mensagens hereditárias”, diz Eduardo Lambert.

As mulheres são as grandes vítimas dessa repressão, revela a antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2010, ela realizou a pesquisa intitulada A Cultura da Risada, com 125 homens e 125 mulheres cariocas de classe média. “O riso é uma forma importantíssima de comunicação no Brasil. Significa que sabemos e queremos ter prazer e ser felizes, mesmo no meio de dificuldades”, afirma.

No entanto, a fachada alto-astral esconde uma discrepância entre os gêneros no que diz respeito à permissividade para rir. A ala masculina se beneficia muito mais desse cartão de visitas do que a feminina. “A primeira pergunta da pesquisa foi: você ri muito ou pouco? Responderam ‘muito‘ 84% dos homens, enquanto 68% das mulheres deram a mesma resposta. É uma diferença bastante significativa”, diz Mirian.

O estudo foi além. Detectou que 60% dos homens estão satisfeitos com sua cota de risadas. Já o mesmo contingente de mulheres confessa que gostaria de rir mais. A pergunta que não quer calar: “O que nos impede de sorrir com mais frequência?” Os homens riem dos amigos e com os amigos, no trabalho, no bar, em situações diversas. Dizem que têm bom humor, que são bobos, descontraídos. As mulheres riem menos porque se preocupam com a autoimagem, com a postura profissional, com o que os outros vão achar e também por terem menos oportunidades para rir”, afirma a antropóloga.

“O riso é uma forma importantíssima de comunicação no Brasil. Significa que sabemos e queremos ter prazer e ser felizes, mesmo no meio de dificuldades”,  Mirian Goldenberg, antropóloga

Reaprendendo a sorrir

Para muitas pessoas, a sugestão a seguir pode soar como maluquice, coisa de gente alternativa. Nada disso. Homens e mulheres podem reaprender a rir com a ajuda de terapeutas especializados em risoterapia ou na terapia do riso. A indicação vale tanto para indivíduos contidos como para aqueles que estão atravessando uma fase difícil, incluindo quadros de depressão. Nesse caso, a terapia é complementar, ou seja, não exclui o tratamento convencional com psiquiatra.

Em Belo Horizonte, Minas Gerais, funciona o Clube da Gargalhada, fundado pelas terapeutas e professoras de ioga Ursula L. Kirchner e Mari Tereza Nascimento Vieira. “Sentimos necessidade de criar um espaço em que as pessoas pudessem se expressar e reaprender a gargalhar, despertando sua criança interior”, diz Mari. A iniciativa segue os fundamentos da hasya ioga (ioga do riso), criada pelo médico indiano dr. Madan Kataria, em 1995. “De acordo com essa vertente, o riso nasce do corpo, por meio de mímicas, movimentos, exercícios de respiração e emissão de sons”, afirma Ursula.

O riso proveniente do intelecto, como aquele disparado após ouvirmos uma piada, não interessa ao grupo. O alvo aqui é o aspecto lúdico da experiência. Num primeiro momento, a risada é induzida pelas terapeutas por meio de exercícios vocais, como a repetição do mantra “ho ho ho, ha ha ha”. “Esse som reflete-se no abdômen, ponto-chave da risada”, diz Ursula. Nas sessões, individuais ou coletivas, também são sugeridas gargalhadas temáticas, como a do ônibus lotado, inspirada nessa situação cotidiana. “Seguramos na barra imaginária do veículo e trememos, balançamos o corpo de um lado para o outro. A graça aparece naturalmente e contagia o grupo”, afirma Mari.

O corpo humano não sabe diferenciar o riso induzido do espontâneo. Portanto, vale a pena enganá-lo. “A reação neurofisiológica é similar, ou seja, o cérebro produz nos dois casos os chamados hormônios da alegria: endorfina, dopamina e serotonina”, diz Ursula. No entanto, dependendo do estado emocional do praticante, a gargalhada pode demorar a brotar. É natural. O importante, ressaltam as especialistas, é permanecer na sessão nem que seja apenas para observar os companheiros. “Como o riso é contagiante, nada melhor do que olhar os outros rirem para se contaminar e acabar rindo junto”, afirma a terapeuta.

A dupla, pioneira na América do Sul, manuseia uma arma bastante poderosa. Cada vez mais empregada não só em grupos terapêuticos como também em empresas mundo afora. “A terapia do riso melhora a autoestima e a autoconfiança, estimula a criatividade e a espontaneidade, rejuvenesce o espírito, relaxa o corpo e ainda nos ajuda a relativizar os problemas”, diz Mari.

A empresária mineira Adelaide Vilas Boas, de 61 anos, procurou o Clube da Gargalhada após um período de provações que lhe roubou o colorido da vida. Hoje, reanimada, enxerga motivos para sorrir em todo canto. “Aprendi a entrar em contato comigo mesma e a expressar meus sentimentos”, afirma. No começo, ela confessa, só ria da boca para fora. “Com o tempo, soltei minhas travas e comecei a rir por dentro”, diz. A vida ganhou tônus, vibração. A mente está focada nos bons pensamentos. “Senti ânimo para voltar a trabalhar e a fazer ginástica. Acordo bem disposta e confiante. Estou sempre rindo à toa”, afirma.