Olá pessoal, tudo bem? Acabei de voltar de uma experiência surreal na Índia e Dubai. Na Índia para me certificar como Professor do Yoga do Riso sob a batuta pessoal do Dr. Madan Kataria, que além disso ainda me nomeou Embaixador do Riso para o Brasil (Yeehhhh!). E em Dubai para celebrar esta passagem e todas estas certificações. Valeeuuu!
E hoje, aproveito para compartilhar com vocês a matéria publicada em 28/09/18 no site Meu Estilo do R7, escrita por Natalie Keyssar da BBC e publicada antes na BBC NEWS BRASIL, com o tema "As pessoas que não conseguem sorrir", contando a estória de Kevin Portillo. Valeu muito a pena conhecer sua íntegra abaixo:
Todos os dias, Kevin Portillo pratica como sorrir. Normalmente, depois
de escovar os dentes. Mas também quando vai ao banheiro ou se depara com algum
espelho no caminho. Kevin conseguiu aprender a sorrir com muitos treinos
Ele insere os dedos indicadores nos dois lados da boca e puxa
suavemente para cima. Em seguida, contrai o rosto como se fosse dar um beijo e
abre os lábios em um "Ó", tentando alongar os músculos faciais.
Pratica tanto o sorriso de Mona Lisa - discreto e com os lábios cerrados -
quanto o aberto, tentando mostrar todos os dentes.
Em teoria, ele deveria fazer esse exercício diariamente. Mas como tem
apenas 13 anos, às vezes acaba esquecendo, embora entenda sua importância.
"Eu preciso alongar minhas bochechas", comenta. "Faço
isso por alguns minutos. Mas tenho que fazer todos os dias." Ele pratica
tanto que, muitas vezes, sua mandíbula fica dolorida.
Kevin nasceu em Nova Jersey, nos EUA, com um raro tumor vascular
maligno: hemangioendotelioma kaposiforme (HEK), que cobre o lado esquerdo do
seu rosto, apertando o olho esquerdo e empurrando o nariz para a direita.
Imediatamente após seu nascimento, os médicos transferiram Kevin para
um hospital em outro estado, o Children's Hospital of Philadelphia. A mãe só
pôde ver o filho pela primeira vez em seu oitavo dia de vida. A equipe informou
aos pais que as chances dele sobreviver eram pequenas. Mas ele conseguiu.
Luta pelo sorriso
A dimensão do tumor e os danos causados pelo tratamento impediram
Kevin, no entanto, de fazer algo fundamental para as relações humanas: sorrir.
Do ponto de vista físico, um sorriso é algo bastante evidente. Há 17 pares de
músculos controlando a expressão facial, além de um individual: o orbicular,
uma espécie de anel que envolve a boca.
O sorriso básico, que se curva para cima, é alcançado principalmente
por meio de dois pares de músculos, conhecidos como zigomático maior e menor.
Eles conectam os cantos da boca às têmporas, puxando os lábios para cima. Em
geral, atuam acompanhados do músculo levantador do lábio superior, dependendo
das emoções e dos pensamentos.
No entanto, é quando nos distanciamos do campo da fisionomia que o
sorriso se torna algo misterioso. Essa contração de vários músculos faciais
deixou sua marca ao longo da história, desde os sorrisos arcaicos das
esculturas gregas, conhecidas como kouros, feitas há 2,5 mil anos, até os
emojis, os pequenos ícones que usamos nas trocas de mensagem online para
expressar emoções.
Existem diferenças de gênero (geralmente, as mulheres sorriem mais) e
de cultura. Mas o sorriso é definitivamente uma forma de comunicação: as
pessoas sorriem mais em público ou quando estão interagindo com alguém do que
quando estão sozinhas.
Os cientistas demonstraram que os sorrisos são muito mais fáceis de
reconhecer do que outras expressões. Só não sabem ainda a razão.
"Podemos reconhecer sorrisos muito bem", diz Aleix Martinez,
professor de engenharia elétrica e da computação da Universidade Estadual de
Ohio, nos EUA, onde fundou o Laboratório de Biologia Computacional e Ciências
Cognitivas.
"Mas por que isso acontece? Ainda não temos a resposta. Não
sabemos a razão. Eu posso te mostrar uma imagem por apenas dez milissegundos, e
você vai me dizer que se trata de um sorriso. Isso não funciona com outras
expressões."
Surpreendentemente, são necessários 250 milissegundos para reconhecer a
expressão de medo - ou seja, 25 vezes mais demorado do que o sorriso.
"Reconhecer o medo é fundamental para a sobrevivência, enquanto um
sorriso...", reflete Martinez. "Mas é assim que fomos
programados."
Função social
Outros estudos mostraram que rostos sorridentes são considerados mais
familiares do que os neutros. Alguns cientistas, como Martínez, defendem a
teoria de que os sorrisos - assim como franzir a testa e outras expressões
faciais - são resquícios da fase pré-linguística da humanidade.
A linguagem humana começou a se desenvolver há cerca de 100 mil anos,
mas nossas expressões faciais são ainda mais antigas - é possível que remetam à
época de nossos primeiros antepassados.
"Antes que conseguíssemos nos comunicar verbalmente, tínhamos que
nos comunicar com os rostos", comenta Martinez.
Interpretar as nuances de um sorriso é um desafio, seja na história da
arte, em encontros interpessoais ou até mesmo na vanguarda da inteligência
artificial. Em um estudo realizado em 2016, por exemplo, milhares de pessoas,
de 44 culturas diferentes, foram questionadas sobre oito fotografias de rostos
humanos - quatro sorrindo e quatro sem sorrir.
A maioria das pessoas considerou que os rostos sorridentes eram mais
sinceros do que aqueles que não estavam sorrindo. Essa diferença foi enorme em
alguns países, como Suíça, Austrália e Filipinas. Mas pequena em outros, como
Paquistão, Rússia e França.
Em países como Irã, Índia e Zimbábue, os resultados mostraram que os
sorrisos não agregam nenhum valor extra de confiança.
Por quê? Essa pergunta também é complicada. Mas, em resumo, os
pesquisadores concluíram que tem a ver com o fato de aquela sociedade ser ou
não moldada para que seus membros acreditem que outras pessoas estão honestas
com eles.
"Níveis altos de corrupção diminuem a confiança em relação aos
sorridentes", afirmam os autores do estudo. Falta de seriedade ou
'iluminação'?
Essa atitude remonta a uma visão muito antiga do sorriso, que se opunha
à solenidade religiosa. Quando a devoção era um valor dominante, os sorrisos
eram reprovados, tratados como precursores do riso, algo desprezado naquela
época. Antes da Revolução Francesa, por exemplo, os sorrisos largos na arte
representavam, em grande parte, os lascivos, bêbados e baderneiros das classes
mais baixas.
No entanto, religiões orientais costumam associar o sorriso à
iluminação espiritual. O nome literal do milenar Sermão da Flor, que descreve a
origem de Zen Budismo, é: "Pegue a flor, sorriso leve". Buda e várias
figuras religiosas foram retratadas com sorrisos serenos, embora os textos
budistas originais sejam tão desprovidos de sorrisos quanto as escrituras
ocidentais. Jesus chora, mas nunca sorri.
Kevin Portillo também não sorri, ou melhor, não totalmente. Já em sua
quinta semana de vida, teve de passar por sessões de quimioterapia com
vincristina, uma droga anticâncer tão potente que pode causar dor óssea e
erupções na pele. Os médicos alertaram sua mãe, Silvia Portillo, que o
tratamento poderia causar cegueira, surdez ou deixá-lo incapaz de andar.
Seja por causa do tumor ou por conta da medicação, o nervo craniano
número 17 de Kevin atrofiou. Esse nervo, que se origina no tronco encefálico e
se ramifica no rosto, é suscetível não só a tumores, como foi o caso de Kevin,
mas também a doenças raras, como a síndrome de Moebius - paralisia facial
congênita causada pela atrofia ou ausência dos nervos cranianos.
A pessoa não consegue sorrir, franzir a testa ou mover os olhos de um
lado para o outro. "Basicamente, você tem uma máscara no rosto", diz
Roland Bienvenu, um texano de 67 anos que sofre com a síndrome de Moebius. Sem
poder sorrir, os outros "podem ter uma impressão errada de você",
assegura.
"Você quase pode ler os pensamentos das pessoas. Elas se
perguntam: 'Tem algo de errado com ele? Deve ter sofrido um acidente'?
Questionam sua capacidade mental, acham que você talvez tenha alguma
deficiência intelectual, já que se deparam com um rosto sem muita
expressão."
Os desafios decorrentes da falta de um sorriso costumam se acumular.
Quando as pessoas têm uma condição médica grave o suficiente para impedi-las de
sorrir, outras dificuldades tendem a estar associadas. "Ele era diferente
das outras crianças", diz Silvia, mãe de Kevin.
"Ele foi alimentado durante quatro anos por meio de um tubo ligado
ao seu estômago. Ele não tinha como ter uma vida normal, pois em intervalos de
poucas horas, nós precisávamos conectá-lo à máquina para que conseguisse se
alimentar. Outras crianças, curiosas, olhavam e perguntavam o que estava
acontecendo com ele", comenta.
Mas, mesmo quando Kevin foi liberado para comer normalmente, frequentar
a escola e desfrutar de passatempos infantis - ele é apaixonado por futebol e
toca bateria -, ainda sentia as consequências de ter um sorriso incompleto, em
meio a um mundo moldado pela "perspectiva cultural da perfeição",
como Richard Barnett descreve em seu livro The Smile Stealers (Os ladrões de
sorriso, em tradução livre).
"Eu não conseguia sorrir do lado esquerdo, apenas do
direito", conta Kevin. "Meu sorriso era estranho… As pessoas me
perguntavam o que tinha acontecido, porque eu era assim. Eu respondia que havia
nascido assim."
Busca por laços
A paralisia facial não se apresenta como algo óbvio, como acontece com
outras deficiências. Além disso, é rara o bastante para que a maior parte da
população não conheça suas causas - sejam congênitas ou adquiridas ao longo da
vida.
Uma delas é a paralisia de Bell, uma inflamação do revestimento ao
redor dos nervos faciais que paralisa metade do rosto, declinando o olho e o
canto da boca. Em geral, atinge homens e mulheres entre 15 a 60 anos.
Na maioria dos casos, a paralisia de Bell é temporária - costuma
desaparecer tão misteriosamente quanto aparece. Os médicos suspeitam que é
causada por uma infecção viral.
Há ainda eventos traumáticos - como acidentes de carro ou esportivos -
que danificam os nervos e músculos faciais, além de irregularidades congênitas,
como o lábio leporino (ou fenda palatina).
Uma condição comum que também pode afetar o sorriso é o acidente
vascular cerebral (AVC). O sorriso assimétrico é um dos três sinais de derrame
e indica, consequentemente, que a pessoa precisa de atendimento de médico
imediato. Os outros dois são: dormência em um braço e fala arrastada ou
distorcida.
Perder um sorriso é um duro golpe em qualquer idade, mas pode ter um
impacto maior sobre os jovens, que estão apenas começando a criar laços que vão
levar para o resto da vida.
"É um grande problema", diz Tami Konieczny, supervisora do
setor de terapia ocupacional do Children's Hospital of Philadelphia. "Quando você vê alguém, a primeira coisa que enxerga é o rosto,
sua habilidade ou incapacidade de sorrir, ou de apresentar um sorriso
assimétrico. É o seu mundo social", afirma.
"Se alguém não consegue ler suas expressões faciais, então, é
difícil ser aceito socialmente. É extremamente devastador para as crianças. Eu
vi algumas retocando suas fotos em programas de computador. Elas tiram fotos do
lado bom do rosto, espelham e copiam. Ou seja, manipulam suas próprias imagens antes de postá-las nas redes
sociais."
Manipular fotos pode funcionar para as postagens no Facebook. Porém,
consertar um sorriso dividido por danos nos nervos e, consequentemente perda
muscular, é muito mais complicado. Às vezes, requer cirurgias plásticas de
vários níveis, ao longo de anos.
"É incrivelmente importante poder interagir cara a cara com as
pessoas", diz Ronald Zuker, cirurgião plástico canadense, pioneiro em
procedimentos de reconstrução facial.
"Se você não tem a capacidade de sorrir, você está em desvantagem.
As pessoas não conseguem entender suas emoções internas. E confundem sua
expressão com falta de interesse, inteligência ou de envolvimento na
conversa."
Ainda assim, alguns pais preferem esperar até que os filhos fiquem mais
velhos e possam participar da decisão de fazer as intervenções cirúrgicas.
"Se as famílias querem esperar, tudo bem", diz Zuker.
"Às vezes, quando uma criança tem nove ou dez anos, ela se olha no espelho
e diz: 'Sabe de uma coisa, eu quero fazer a cirurgia'. Essa é a hora."
Recomeço difícil
Foi o que aconteceu com Kevin. Ele estava indo bem, "mesmo com uma
cicatriz no rosto, sempre foi popular na escola", diz a mãe.
"Sempre foi uma criança feliz." Mas havia crianças que zombavam dele. Um dia, prestes a completar nove
anos, chegou muito triste em casa.
"Eu perguntei: 'O que aconteceu'? Ele respondeu: 'Algumas crianças
não são minhas amigas. Elas riem de mim porque eu pareço engraçado'. Como pais,
ouvir isso foi muito difícil", lembra Silvia.
Aos 10 anos, Kevin disse aos seus pais, sem pestanejar, que queria
fazer a cirurgia. Ele já sabia que o processo seria longo, doloroso e difícil,
mas era o que ele queria.
Em outubro de 2015, Phuong Nguyen, cirurgião plástico do Children's
Hospital of Philadelphia, começou o procedimento. Ele removeu uma parte do
nervo sural do tornozelo direito de Kevin e fixou no lado direito do rosto do
menino, passando-o por baixo do lábio superior em direção ao lado esquerdo
paralisado. Deixou então crescer por quase um ano. As fibras nervosas avançaram
cerca de um milímetro por dia (quase 24 mil vezes mais lento que um caracol).
Durante esse período, os médicos avaliavam periodicamente as bochechas
de Kevin para ver se o nervo estava progredindo. "Quando está formigando,
você sabe que o nervo está crescendo", explica Nguyen.
Remover o nervo fez com que um pequeno pedaço de pele do tornozelo de
Kevin ficasse adormecido. Mas como Kevin ainda estava crescendo, essa parte sem
sensibilidade começou a diminuir à medida que a rede neural assumia sua função.
Quando Nguyen teve certeza de que o nervo enxertado estava no lugar e
operante, decidiu passar para o segundo estágio da cirurgia. Em agosto de 2016, o cirurgião pegou um marcador de texto roxo e
desenhou um par de linhas paralelas no rosto de Kevin, indicando a localização
de uma artéria principal e, na sequência, fez uma seta, mostrando como seria o
sorriso do menino.
Nguyen removeu um segmento muscular de doze centímetros, junto a uma
seção de artéria e veias, da coxa esquerda de Kevin. Na sequência, fixou tudo
com um separador feito sob medida para a boca de Kevin. No ano seguinte, Kevin
começou a fazer os primeiros movimentos no lado esquerdo da boca. "É
realmente uma coisa mágica", diz Nguyen.
Kevin precisou de sessões regulares de terapia ocupacional para avançar
no tratamento. Ele pratica diferentes exercícios. Um deles consiste em soprar
luvas de látex para estimular o interior da bochecha. Em outro, precisa inserir
um EMG - sensor retangular preto que lê a atividade elétrica do músculo - na
bochecha esquerda, para que possa jogar videogame sorrindo e relaxando.
A reabilitação física é a parte do processo cirúrgico que muitas vezes
é negligenciada, mas pode ser a diferença entre os casos de sucesso e fracasso.
"A diferença é enorme. Especialmente nos casos de paralisia
facial", diz Nguyen. "Você pode realizar cirurgias tecnicamente bem
sucedidas em dois pacientes e ter resultados completamente diferentes, de
acordo com o comprometimento de cada um com a reabilitação."
Como Kevin se sente agora ao conseguir sorrir? "Faço isso
automaticamente", diz ele. "Às vezes, sorrio quando alguém conta uma
piada. Na verdade, está ótimo agora. Antes era estranho. Ao sorrir com os dois
lados da minha boca ao mesmo tempo, sinto que sou uma pessoa que sorri
direito."
A mãe relembra quando viu o sorriso de Kevin pela primeira vez.
"Estávamos todos na mesa comendo", diz Silvia. "Então, notamos algo
diferente: 'Kevin, você está movendo o outro lado'?" Como o novo sorriso
transformou a vida de Kevin?
"Antes, eu era realmente tímido", diz ele. "Agora, sou
menos tímido e mais ativo." "Eu costumava ter dificuldade em
expressar minhas emoções. Agora, as pessoas sabem se estou sorrindo ou dando
uma risada. Antes, eu ria de uma maneira estranha. Mas agora, aos poucos, elas
sabem que estou tentando sorrir. Eu rio e sorrio. Quando eu jogo futebol e faço
um gol, fico feliz e sorrio para mostrar a todos quem marcou."
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